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Uma pergunta inquietante

Quem sou eu? É incrível pensarmos que a história da Humanidade é composta pela soma de todas as nossas biografias e, ao mesmo tempo, nossa biografia é um reflexo da história da Humanidade. É algo grandioso, não? Somos seres únicos no mundo na resposta à questão.

Podemos imaginar a vida como um grande rio, com seu curso definido, onde cada um de nós entra com seu bote, caiaque, ou qualquer meio que nos permita navegar... Cada um entra ou sai em uma altura, de margens arenosas e suaves ou pedregosas, ora com águas calmas, ora turbulentas. Em uma determinada altura, avista-se uma casa, onde se tem a chance de fazer uma pausa e aprender sobre a cartografia do rio e conhecer melhor a própria embarcação, para poder pilotá-la com maestria. Dali em diante, a viagem terá outra qualidade e é disso que se trata o Trabalho Biográfico.

Voltando à pergunta inicial, ela pode revelar-se higiênica e alavancadora quando cada um de nós decide seriamente a investigar a si para respondê-la.

Conhecendo a própria história, acessamos a força interior que trazemos disponível que por ora poderia estar adormecida. Ou seja, podemos aprender com o destino para tomar melhores decisões ao longo da vida. Mas há uma forma de enveredar pelo passado, observando o ser humano em seu desenvolvimento por diferentes eixos: biológico – que reúne o corpo físico e sua saúde -; anímico – instância onde atuam o pensar, o sentir e o querer -; e espiritual, observando seu progresso ao longo da vida.

Tal pesquisa pode ser feita com mais clareza quando conhecemos as Leis Biográficas, leis arquetípicas que influenciam o desenvolvimento humano a cada setêniociclo de sete anos – tempo em que vivemos mudanças importantes. Assim, é possível identificar o que é comum a todos e o que é peculiar de cada individualidade, nas diferentes fases.

Ao nos debruçarmos sobre nossa própria história aprofundamos a compreensão sobre as questões que nos afetam sem simplesmente reagir a elas. Ao resgatarmos o passado, abertos a descobertas, podemos reconhecer no caminho percorrido o sentido de nossa vida. Assim, nossas escolhas são feitas sob um novo estágio de consciência.

O Trabalho Biográfico pode ser aplicado ao âmbito pessoal ou empresarial (formação e desenvolvimento de times). É um processo com começo, meio e fim e parte de uma escuta ativa, provocada por perguntas orientadoras. Pode ser realizado individualmente ou em grupo, presencialmente ou à distância.

Nos três primeiros setênios da vida, do nascimento aos 21 anos, acontece a formação do ser humano, onde os valores Bondade, Beleza e Verdade representam importantes pilares. Podemos chamar esta fase de Primavera da vida. É um tempo de crescer e aprender, sendo a família o núcleo essencial na estruturação e valores do indivíduo.

De que você se lembra neste período? Como era o aconchego do seu ninho e a escola? Como foi ter 9 anos? O que, de positivo ou negativo, ficou? A cada ciclo, perguntas orientadoras vão balizando o cliente no resgate e compreensão da memória.

Entre 21 e 42 anos, adentramos o Verão. O corpo físico está desenvolvido e começa agora um período de amadurecimento, de escolhas mais livres e autoconhecimento. Nosso mundo interno é construído por meio de nossa atuação no mundo externo. Entre outras, atravessamos três crises emblemáticas, não crises patológicas, mas crises inerentes ao desenvolvimento do ser: a Crise de Identidade (21), a Crise dos Talentos (28) e a Crise de Autenticidade (42). Fortalecemo-nos com cada uma delas e nos deparamos com a realidade: há momentos em que algo precisa ser abandonado para seguirmos adiante. A biografia se revela e somos convidados a reconhecer quem somos.

Dos 42 aos 63 anos, chegamos ao Outono da existência. É tempo de colher frutos, de significativas realizações, mas continuamos a nos lapidar e contemplar o propósito da própria jornada. Quando estamos em nosso caminho, apesar dos desafios do declínio físico, adquirimos um novo olhar, uma nova qualidade de escuta e uma nova forma de viver.

Chega, então, o Inverno. Feliz de quem se trabalhou para viver um envelhecer luminoso e livre. Os sentidos, nossa janela para o mundo vão se fechando e vem a consolidação do mundo interno. Como você se imagina ao alcançar esta fase?

Com a retrospectiva e organização dos fatos vividos, também expressos em aquarelas (ou em outra linguagem artística), enxergamos nosso desenvolvimento e progresso sob diferentes perspectivas, espelhados, frente a tônica de cada setênio.

Todo este Trabalho é fundamentado na Antroposofia (do grego, “conhecimento do ser humano”), Ciência introduzida pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner (1861-1925). Depois, o psiquiatra Bernard Livegoed (1905-1992) debruçou-se sobre o legado de Steiner, publicando o livro Fases da Vida, onde ressaltou a importância do desenvolvimento espiritual para a superação do declínio biológico e de problemas inerentes à psique, sistematizando o trabalho com as leis que regem a vida humana. A partir do trabalho de Livegoed, na década de 90, várias Formações Biográficas despontaram no mundo, inclusive no Brasil, onde, em 1993 a Dra. Gudrun Burkhard (1929) junto com o esposo Daniel Burkhard iniciou o Biográfico em São Paulo, com a Escola Livre de Estudos Biográficos, ligada ao Goetheanum, na Suiça, sede do movimento antroposófico no mundo.

Enfim, seja quem for você ou qual for sua vida e a forma como você lida com o rio aonde está a navegar, saiba que toda essa teoria ganha cor à luz da Biografia de cada ser, único no mundo, e de sua predisposição e coragem de conhecer a si.

Quer descobrir o que sua própria história tem para lhe contar?


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