Admiro as tangências do mundo. O conceito aprendi nas aulas de física ou matemática, mas o significado aprendi com a vida.
Ao redor da mesa da casa repleta de luz, onde mora gente intensa e um labrador da cor da noite que, apesar da velhice, não se cansa de caçar carinho o tempo todo, oito mulheres se tocam na tangência de quatro encontros. No centro, água aromatizada com laranja e canela, frutas, damascos e biscoitinhos para matar a fome de escrita de memórias.
Um bebê dorme. Ele foi presente em todos os sentidos e o frescor de sua mãe também. Eu amamento a memória. Ela, o menino.
Posso até dizer que a Oficina é internacional. Um sotaque chileno de uma Afrodite, tipo Brigite Bardot já madura, nos brinda com sua beleza e euforia. Quando ela conta de suas lembranças do Rio de Janeiro, seus olhos se enchem de sol. Está conosco para fazer a mala de palavras e se despedir do Brasil.
Nós nos sentimos em oito, mesmo com duas cadeiras vazias. Acontece. Uma foi ter com a avó que se despede deste mundo A outra não mandou notícias. Mas quando se é desimpedida aos vinte e oito anos, quem é que quer dar satisfação?
Uma jovem mãe vaporosa quer se concentrar e pede ajuda. Um dia ela me confidenciou que aproveita o silêncio do sono de suas crianças, para escrever. Em meio à maternidade dos pequenos, encontra nas páginas do caderno o seu espaço.
Ali também há uma tangência antiga, retangenciando. Antes eu a conheci como empresária e agora a descubro como uma guardiã de memórias. Elas quer cozinhar, mas recomendo escrever. Desconfio que é esta sua nova missão.
Por fim, uma irmã biográfica, minha anfitriã, tangência que virou laço e me fez o convite de povoar seu lar com histórias.
Oito mulheres. Compartilhamos experiências, conhecimento. Onde restas tangentes vão dar, ainda não sei, mas depois que me tocaram não sou mais a mesma: sou mais forte. Entre elas, o agora me revelou o valor do passado. Nessa tangência, deixo a física e a matemática de lado: o amor me toca sem tempo verbal.
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